sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Filme: "O ponto de mutação"




Sobre “O Ponto de Mutação”, é possível dizer que se trata de um filme instigante que pode contribuir com o entendimento do que seja um pensamento multifacetado do mundo. O enredo (ou pretexto para seu desenvolvimento) é simples, mas bem elaborado, para o seu objetivo: uma cientista que vê seus ideais traídos e desencantada com o projeto Guerra nas Estrelas, um candidato à presidência dos Estados Unidos e um dramaturgo em crise se encontram em um castelo medieval de Mont Saint Michel, no litoral da França . Em um único dia, os três invocam Descartes, Einstein, ecologia, política, física quântica, poesia e tecnologia para compreenderem os paradigmas do futuro.

O filme baseia-se no livro de mesmo título, de autoria de Fritjof Capra, cujo grande tema são as forças sociais, políticas, econômicas e suas tendências e que sugere que todo ponto de mutação consiste na passagem do velho para o novo, no renovar o já envelhecido. Para que isto ocorra de maneira eficaz teremos que vencer o grande problema da humanidade como um todo: a percepção. Se a visão do homem é igual à visão de mundo e não gostamos do que vemos, nós temos que mudar nossa visão em relação a ele. A revolução da física moderna traz consigo novos valores e novas formas de ver o mundo.

O Ponto de Mutação investiga as implicações e impactos do que tomava a forma de uma mudança de paradigmas, com seu ponto de partida na observação de que os principais problemas visíveis do século XX - ameaça nuclear, destruição do meio ambiente, desigualdades e exploração gritante entre Norte e Sul, preconceitos políticos e raciais, etc. - são todos sintomas ou aspectos diversos do que, no fundo, não passa de uma única crise fundamental, que é uma crise de percepção, uma percepção distorcida baseada no individualismo e na separatividade entre pessoas, coisas e eventos. Esta crise é promovida quando, pela educação, cultura e ideologia dominantes, nós e nossas instituições adotamos conceitos e introjetamos valores que, apesar de sentidos como obsoletos, servem para justificar e racionalizar sentimentos menos nobres como a avareza, por exemplo.

O atual paradigma, que já nós deu inúmeras mostras de esgotamento e de incapacidade de solucionar inúmeros problemas básicos e existenciais do ser humano, vem dominando amplamente nossa cultura e educação há quase 400 anos. Tal paradigma, que Capra chama de newtoniano-cartesiano, teve um impacto benéfico ao libertar a razão das amarras da superstição e do controle eclesiástico, mas foi, com o tempo, hipertrofiado. Ele consiste numa série de idéias e pressupostos, com determinados valores implícitos, que acaba por ser o referencial subliminar de nosso modo de entender o mundo já que é a base filosófica pela qual a ciência se apóia.

O paradigma newtoniano-cartesiano pressupõe, de uma maneira geral, que o universo que nos engloba é uma grande máquina mecânica - ou age como tal - que é inteligível se nós nos lembrarmos de que ela, tal como um relógio, nada mais é que um composto, formado por pequenas partes elementares, os átomos.

Porém, desde a revolução promovida por Einstein na Física, e com o abalo feito em nossos pressupostos clássicos pela mecânica quântica, passando por eventos e questionamentos sociais, toda essa visão de mundo passou a ser severamente questionada e, com a evolução subseqüente, tem mostrado sérias limitações que exigem uma revisão radical. 

A questão da mudança radical nos conceitos de espaço, tempo e matéria, que adveio da Física Moderna é apresentada de forma mais acessível em O Ponto de Mutação. Em especial, durante toda a obra, Capra faz uma crítica fundamental à mentalidade analítica e fragmentadora da ciência normal, em especial, às ciências que tomam o método analítico da Física Clássica de Newton como modelo que deve ser seguido para erguer as demais ao status de ciência perante a comunidade acadêmica.  

O filme propõe que é mais correto se falar em eventos e inter-relações como a descrição da realidade do que dizer que determinadas partes atuam de tal ou tal forma para definir o todo. Esta é exatamente a mesma idéia da Ecologia: somos frutos em interação do ambiente natural, e não independentes dele. O que fazemos contra a natureza fazemos, de modo brutal e estúpido, a nós mesmos...

No final, o que Capra deixa bem claro é o seguinte: A sobrevivência humana, que é ameaçada por várias ações igualmente humanas advindas de uma visão de mundo mecanicista e fragmentada, só será possível de formos capazes de mudar radicalmente os métodos e os valores subjacentes à nossa cultura individualista e materialista atual e à nossa tecnologia de exploração do meio ambiente. Esta mudança deverá, logicamente, refletir-se em atitudes mais orgânicas, holísticas e fraternas entre os seres humanos e entre estes e a natureza, em todos os seus aspectos.

Fonte: http://www.overmundo.com.br/banco/resenha-do-filme-o-ponto-de-mutacao 

 A partir disto e do que foi assistido e discutido em sala de aula sobre os primeiros levantamentos da discussão sobre ciência, fica para vocês a pergunta:

Qual a relação entre ciência, ética e política???

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